Saturday, November 19, 2005

man in black

Massimilliano Fuksas – Nota-se logo (na sua obra e personalidade) a sua extrema sensibilidade. Italiano típico, fala com as mãos e grita “mamma mia!” e “que bello!” a cada três palavras que diz. Há como que uma contradição entre uma presença tão...vernacular e uma obra tão sofisticada. Tentou enquadrar a sua obra num discurso teórico completamente ridículo. Tem trabalhos terríveis (como as torres em Vienna) e trabalhos extraordinários (como a escola de artes em Bordéus). Acabou agora uma sede para a Ferrari com pormenores líndissimos mas globalmente medíocre. E está a acabar de ser construída a sua Feira de Milão (que saudades!), de uma dimensão enorme e com passagens pedonais com formas extraordinárias. Penso que se foca demasiado em pormenores e em imagens estáticas (para a foto) do que no carácter dinâmico da experiência arquitectónica. Veio vestido de preto.

Richard Meier – O arquitecto clássico. Um senhor. Passou os primeiros dez minutos da conferência a explicar como estava espantado com o século XXI pelos seus slides aparecerem num ecrán. Na pequena escala, não há ninguém melhor. As suas casas são o mais belo que já foi feito. Nota-se muito a influência do Marcel Breuer, onde trabalhou, e do Frank Lloyd Wright, principalmente o Guggenheim. Começou com o atelier no quarto enquanto trabalhava na sala. Penso que perde muito quando passa para a grande escala, onde tem trabalhos terríveis, incluindo umas torres habitacionais que está agora a fazer aqui no Soho. Lembro-me de quando vi pela primeira vez uma obra sua em Paris (a sede da Renault) e a desilusão que foi. O Mark Wigley chamou-lhe o arquitecto mais aclamado da actualidade. Veio vestido de preto.

Peter Einsenman – Estava na conferência do Charles Jencks como crítico convidado, uma faceta que admiro bastante nele, principalmente os trabalhos com Derrida. Mas fiquei bastante desiludido. É um New Yorker típico. Apareceu de boné, ri alto, tem uma presença imponente. Penso que ressente muito não ter tanta obra construída como outros “star architects” e expressa isso dizendo coisas terríveis do Calatrava, do Gehry, etc, a maior parte despropositadas. É talvez o arquitecto com a melhor obra não construída. A sua proposta para a Igreja do Milénio (ganha por Meier) é fabulosa. Está agora a redimir-se com a cidade da artes da galiza. O único edifício que vi dele foi em Tóquio e era terrível....veio vestido de preto.

Frank O’Gehry – O meu preferido. Tem um humor fabuloso e é extraordinariamente inteligente. Mas não tem paciência para o papel de modelo e ídolo (os estudantes asiáticos trataram-no como uma superstar do cinema, a tirar fotos, pedir autográfos e até uma a chorar...). Queixa-se que está preso à imagem do Guggenheim e quando os clientes vão ter com ele querem um igual. Foi obrigado a mudar o revestimento do Disney concert Hall em Los Angeles de pedra para titanio por causa disso. Admitiu que o museu da música em Seattle não era uma boa obra. Para mim é o maior criador da actualidade, embora tenha alguma dificuldade em ir para além da linguagem que inventou...veio vestido de preto.

Steven Holl – Outro New Yorker típico e professor aqui. Foi o primeiro arquitecto a participar no ciclo das Conferências de Columbia com professores da universidade, que se realizam de dois em dois anos, e têm um prestígio enorme (há dois anos foi o Jeffrey Sachs). Outro completo pseudo-teórico a tentar englobar a sua obra num discurso coerente. É um bom arquitecto, mas vive dos renders e da imagem. As suas melhores obras são de longe as primeiras, principalmente a renovação da entrada de uma edíficio de escritório e uma galeria de arte aqui em Manhattan e o prédio em Fukuoka, que eu conseguia ver da janela do meu quarto...:). A sua residência de estudantes no MIT é horrível. Está a aproveitar o crescimento da China para construir coisas completamente idiotas, incluindo uma cidade para 50000 pessoas, em que a estrutura dos espaços públicos é um caractér chines, literalmente. Veio vestido de preto.

Rafael Moneo – O professor. Em vez de mostrar a sua obra (foi convidado para fazer um edifício aqui no campus...), apresentou uma tese altamente elaborada sobre arbitrariedade na arquitectura ao longa da historia, incluindo análises às obras de Gehry e Einsenman que estavam a assistir. Fala muito mal inglês, o que me surpreendeu porque é professor em Harvard há muito tempo. Apenas leu. Quando o abordei, comecei a falar em inglês e ele respondeu-me em espanhol. Vieram os reitores das escolas de arquitectura de Princeton, Harvard e Yale para o ouvir, mais o presidente de Columbia (que foi embora passado meia hora, com ar preocupado...lol). O gajo de Harvard começou a armar-se em cromo, e levou uma ensabuadela. Veio vestido de preto.

Richard Rodgers – Tipicamente british. É advisor do Blair, do mayor de londres e do de barcelona (cabrão). Têm um altelier fabuloso com 130 pessoas. Detesto a sua obra construída (embora a sua primeira casa, para os pais seja lindíssima) e acho a sua obra de urbanismo medíocre (incluindo a de cacilhas...a que a do Graça Dias era muito melhor!) Mas é incrível o que este gajo tem construído. Até o plano do centro de shangai, embora tenha sido completamente desvirtuado. Tem umas publicações interessantes, incluindo o relatório “towards an urban renassaince” mas são apenas generalidades que toda a gente já sabe. Mas respondeu às perguntas (que os americanos sempre fazem...) com bastante sensatez. A melhor resposta ao terrorismo foi a espanhola, com as pessoas a sair à rua com velas. Os tumultos franceses, são os imigrantes a querer dizer que estão lá e também contam. Nunca entendeu o que é a mão invisível do mercado. A questão é como se compensa as suas insuficiências. Veio vestido de preto.

Como cheguei aqui tarde, perdi o Koolhaas, mas não há problema, porque o gajo vem para cá para o ano (eh, eh). E também não gostei nada quando o vi em Córdoba à uns anos...O Bernard Tschusmi não teve interesse nenhum e o edifício que fez aqui no campus por ser o reitor da minha escola é horrível. E ainda falta o Zumthor, e o Tom Mayne fundador do Morphosis (o meu preferido depois do Gehry...).

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