Tuesday, February 14, 2006

O barco que a semana passada se afundou no Egipto com 1400 passageiros a bordo é o acontecimento mais elucidativo para perceber os protestos islâmicos contra os cartoons dinamarqueses. Mais de 1000 pessoas morreram afogadas, e três dias depois 1000 pessoas continuavam à espera no hospital, tendo os seus protestos sido violentamente repudiados pela polícia.

O desastre e a extraordinária incompetência do governo Egipto em responder eficientemente representa as difíceis condições de vida em que vivem actualmente os Egípcios e outros povos muçulmanos governados por administrações incompetentes e corruptas em completa impunidade.

Os protestos representam a estratégia destes governos em arranjar bodes expiatórios para os males internos, seja o Ocidente ou Israel. Como escreve Michael Slackman no NY Times, é interessante notar que enquanto os ocidentais falam de liberdade e democracia, os povos islâmicos tendem em clamar por justiça social, porque é isso que sentem que lhes tem sido negado ao longo da história.

Neste sentido, no contexto da subida ao poder do Hamas, partido fundamentalista que ganhou as eleições por prometer melhores condições de vida aos palestinianos, os cartoons serviram de pretexto aos regimes autoritários do Médio-Oriente para silenciar os seus críticos e pintar uma imagem negativa de um Ocidente democrático cujos valores se vão tornando cada vez mais atractivos para estas populações.

È especialmente irónico que seja a Arábia Saudita a liderar os protestos, pois os Wahhabis, que dominam o país não acreditam que se deva prestar homenagem às figuras sagradas do Islão tendo inclusive proibido a celebração pública do aniversário do profeta Maomé.

È também irónico que os fundamentalistas sunitas protestem contra os cartoons quando nada fizeram quando mesquitas xiitas foram atacadas durante o Ramadão no Iraque.

Deverá a resposta do Ocidente ser mais censura, abdicando dos seus próprios valores?

Uma diferença interessante é que relativamente aos cartoons que normalmente são publicados na imprensa Árabe contra as religiões judaicas e cristãs, os seus autores acreditam de facto que os ocidentais são infiéis.

A mim parece-me que enquanto não mudar o sistema em que estes valores são produzidos, não só as populações arábes continuaram a sentir-se injustiçadas, como o ocidente continuará a ser confrontado com esta realidade. Com consequências cada vez piores.

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