Saturday, February 04, 2006


Como o Lourenço, também sou dos que anseia por um Portugal mais “europeu, liberal, descomplexado, voltado definitivamente para o futuro” e também atribuo à “tralha socialista que se vem arrastando desde o 25 de Abril” grande parte da responsabilidade em impedir Portugal de se aproximar dos níveis europeus de qualidade de vida”.

Como várias vezes tenho escrito, isto deve-se ao facto da nossa revolução ter sido feita pela esquerda contra uma ditadura assente em valores normalmente identificados com a direita e que permitiu a instituição de direitos e deveres por parte do Estado, que protegem altamente uma parte da população (maioritariamente funcionários públicos e grandes empresários privados) e exclui tudo o resto que sustenta esta máquina com os impostos que pagam obtendo em retorno serviços públicos medíocres.

Esta lógica explica para mim o actual panorama partidário português:

- o PCP e Bloco de Esquerda conseguem juntos representar ainda 10 a 15% dos votos a nível nacional e percentagens ainda maiores a nível local com discursos ideologicamente quase de extrema esquerda, pois este discurso interessa aos lóbbis públicos originando a contradição de serem os partidos mais à esquerda a defender as corporações.

- por outro lado esta lógica origina a ausência de um discurso liberal a nível económico à direita, na medida em que os agentes que o defenderiam são aqueles que mais lucram com o actual peso do estado da economia portuguesa e como tal não lhes interessa que diminua. Ou seja, o cds é um partido originalmente centrista que a partir de manuel monteiro foi tomado por um conjunto de betinhos e que se deixou levar pelo interesse que Paulo portas suscitava (embora ninguém o levasse a sério) mas revoltou-se logo que pode ao eleger ribeiro e castro; e não existem diferenças substanciais entre o PSD e o PS.

No fundo, para mim a grande contradição é a de que para além de discursos inconsequentes a nível de políticas sociais, não existe direita em portugal, apesar de ser atribuído ao exagerado peso do estado e consequente falta de competitividade dos agentes privados, grande parte dos nossos problemas.Neste sentido até fico contente que pela primeira vez Portugal tenha um presidente de direita (embora só em portugal é que cavaco pode ser considerado de direita, mas enfim...). Eu considero-me de esquerda, mas em Portugal para o ser, é necessário que exista antes uma direita...

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