Monday, May 08, 2006

A recente lei aprovada no Estado de Massachussets, estabelecendo a adopção de direitos de saúde universais vem reforçar a reputação do Estado como o mais liberal (no significado americano da palavra) da América e aprofundar ainda mais a disparidade entre a América “Vermelha” e “Azul”.

Esta disparidade é especialmente latente na ideologia política dos regimes eleitos em cada Estado. Por exemplo, enquanto que Estados como Massachussets, California, Rhode Island ou Maryland têm aprovado leis legalizando o casamento homossexual, incentivando a “stem cell research”, controlo de emissões de gases poluentes e uso controlado de marijuana como tratamento médico, no outro extremo do espectro, em Estados como Idaho, Georgia ou Texas, é proibido o casamento e adopção entre casais do mesmo sexo e quase todo o tipo de abortos para além terem introduzido a teoria do “intelligent design” nos curriculos escolares.

As razões para esta disparidade são extremamente diversas e ajudam a perceber o complexo sistema político e cultural presente nos Estados Unidos. Para além das diferentes economias, geografias e histórias, um factor importante é o carácter federal do País e o papel tradicionalmente fraco atribuído ao governo central, constituído depois da maior parte dos Estados e baseado numa Constituição concebida em reacção à forte centralização do sistema britânico.

Este tradicional papel fraco que ao longo da história (embora com variações importantes) o governo federal tem desempenhado nas políticas locais, em favor do individualismo e iniciativa privada, é um aspecto fundamental da constituição da identidade americana.

Um consequência desta promoção da competição (entre estados, cidades, empresas, indivíduos) em detrimento da cooperação é a responsabilização dos “actores” que competem no “mercado” pelo seu bem-estar e a consequente desresponsabilização do estado pela providenciação do mesmo. Este aspecto é importante porque cria um sistema ideológico de auto-responsabilização que tem legitimizado ideologias neoliberais ( aumentando exponencialmente a polarização social e territorial no País, criando 25 milhões de pobres e 50 milhões de saúde sem acesso ao sistema de saúde) sem originar conflictos sociais graves.

Enquanto que na Europa culpamos o Estado pelo que de mal nos acontece, aqui o Estado culpa-nos a nós.

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